Mulheres estudam mais tempo do que os homens e são hoje a maioria no ensino superior
Um apanhado da lista de aprovados na primeira fase do maior vestibular do país, a FUVEST, mostra que, apesar de existirem carreiras com desequilíbrio de gênero para os dois extremos, o curso em que isso é mais pronunciado é de maioria feminina: quatro homens para 56 mulheres no primeiro ano de Obstetrícia, carreira que na prática forma parteiras. “Eles não têm muita dificuldade, porque hoje em dia há muita abertura nesses assuntos que são conduzidos pela questão de gênero”, acredita a Profª Drª Lúcia Cristina Florentino Pereira da Silva, coordenadora do curso. “E a população feminina aceita bem os profissionais, porque já existem os médicos e enfermeiros obstetras. E a gente trabalha muito a postura”.
Descontando-se as características particulares deste curso, ele está longe de ser o único reduto feminino no ensino superior. Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e Relações Públicas são alguns dos exemplos de carreiras em que os homens se vêem em muita minoria, muitas vezes ouvindo piadinhas e sendo questionados por suas escolhas. Exatamente como já aconteceu com elas.
O fisioterapeuta especializado em esportes Luís Felipe Minechelli formou-se há dois anos pela Unicid em uma turma em que os homens eram pouco mais de 10% do total. “Como eu sempre pratiquei esportes, já sabia como era um trabalho de um fisioterapeuta. Então não fui com a cabeça de que é uma profissão de mulher”, explica. “Não sofri tanto dentro do próprio curso, mas fora eu tive um pouquinho de problemas”, revela, dizendo que ouviu muitas vezes perguntarem se “eram todos homossexuais” no curso. Como sempre foi atleta e praticante de lutas, Luís diz que ouviu gracinhas mesmo dentro de sua família. “Já me perguntaram muito se eu ia ser massagista”, revela.
Aryel Murasaki, estudante do terceiro ano de Terapia Ocupacional da USP, relata uma experiência mais tranqüila. Ele só descobriu que tinha escolhido uma carreira predominantemente feminina quando viu que era o único homem na lista de aprovados. “Na verdade, a maioria das pessoas nem sabe o que é, muito menos que é uma carreira feminina. Então quando eu dizia que ia prestar, as pessoas falavam “ahhhh”, fingindo saber do que se tratava”, diverte-se Aryel. “Meu maior problema era esse”. Quando viu que seria a única exceção de uma classe totalmente feminina, no entanto, ficou apreensivo. “Não sabia se ia ficar à vontade, como ia ser minha relação com as meninas. Fiquei apreensivo exatamente por não saber o que me esperava”. Na segunda lista de chamada, no entanto, entrou um segundo aluno e os dois logo fizeram amizade. Mas não uma panelinha. Aryel diz que, passado o susto inicial, sua integração no curso não teve percalços. “Elas falam bastante”, brinca, “mas não sei se tem tanta diferença. Sempre tive muitas amigas também, então já estava bem acostumado”.
O terapeuta também não vê com preocupação a inserção no mercado de trabalho. “Já me falaram que homens na Terapia Ocupacional se dão bem, exatamente porque tem menos. Aí os pacientes homens acabam criando um vínculo maior, ficam mais à vontade”. O fisioterapeuta Luís, no entanto, diz que mesmo trabalhando na área esportiva, já perdeu pacientes por ser homem. “Às vezes a mulher não se sente à vontade”, explica.
Há ocasiões, no entanto, em que as diferenças se manifestam em situações bem mais prosaicas do que a apreensão da minoria e os obstáculos profissionais. No campeão curso de Obstetrícia da USP, por exemplo, acontece um fenômeno curioso: diferentemente de médicos e enfermeiros-obstetras, o profissional formado nesta carreira tem uma denominação feminina, obstetriz. “O que temos feito é diferenciar pelo artigo, nos referindo a “o obstetriz””, explica a coordenadora do curso. “Hoje temos tomado cuidado com isso, para garantir a igualdade dos rapazes”.
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