do iG | Último Segundo
A Polícia Federal investiu quase um mês de investigações até prender em flagrante nesta quinta-feira o servidor público Antônio Bento da Silva, que entregou R$ 200 mil ao jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Edson Sombra, e um bilhete manuscrito no qual se lê a frase “Quero ajuda”.

Autoridades que trabalham na operação Caixa de Pandora afirmam ter reunido indícios de que o contato entre Antônio Bento da Silva e Edson Sombra foi uma tentativa de suborno comandada pelo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Informam também que o bilhete foi escrito pelo governador Arruda.
Investigadores do caso confirmaram ao iG há pouco: Bento da Silva disse à Polícia Federal que recebeu o dinheiro de Rodrigo Arantes, sobrinho e secretário de Arruda. Edson Sombra é um dos responsáveis pelas denúncias contra o governo Arruda. Foi ele quem estimulou o ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa a filmar funcionários do governo, políticos do Distrito Federal e o próprio governador manuseando dinheiro.
Segundo a informação da PF, o plano seria conseguir de Sombra um depoimento atacando a credibilidade dos vídeos feitos por Durval Barbosa. A PF não sabe explicar ainda como um depoimento poderia desmontar as dezenas de vídeos mostrando autoridades públicas recebendo maços de dinheiro.
O iG acompanhou os contatos de Sombra com servidores públicos que o procuravam dizendo-se emissários de Arruda. O primeiro a procurá-lo foi Geraldo Naves, deputado distrital pelo DEM, que foi à sua casa.
Naves entrou calado e entregou um bilhete escrito à mão para Sombra. O texto, de acordo com o depoimento de Sombra aos policiais, teria sido redigido por Arruda. Nele se pode ler, entre outras, a frase “quero ajuda”. O iG teve acesso ao bilhete apreendido pela Polícia Federal.
Geraldo Naves deixou de procurar Sombra. O jornalista passou a ser procurado por outra pessoa: Welington Moraes, ex-secretario de Comunicação do governo do Distrito Federal. Sombra contou em depoimento gravado ao iG sua versão de como os fatos ocorreram. Segundo diz, chegou a usar o celular de Moraes para falar com o próprio governador. “O depoente entrou em contato com o governador Arruda através do celular de Wellington Moraes, com o intuito de questionar o motivo pelo qual Arruda teria enviado Geraldo Naves para intermediar um assunto do Governador Arruda”, diz o documento. Enquanto isso, Edson Sombra procurou a Polícia Federal e contou os detalhes da tentativa de suborno.
Após a escolha de Moraes, Sombra foi surpreendido ao atender a campainha de casa cerca de dez dias depois do primeiro contato de Naves. Na porta, um velho amigo com relação pessoal de mais de 10 anos: Antonio Bento da Silva, servidor aposentado da Companhia Energética de Brasília. Era a terceira e ultima etapa da negociação, de acordo com o depoimento de Sombra. Bento foi gerente comercial do jornal O Distrital, publicado há 10 anos em Brasília. Também conhece Arruda há 30 anos. O governador, assim como Bento, é ex-funcionário Companhia Energética de Brasília (CEB).
Valores
No depoimento prestado por Sombra à PF, o jornalista explica como foi a negociação. Sombra receberia R$ 1 milhão em troca de uma carta desacreditando os vídeos de Durval Barbosa. Como é testemunha do inquérito policial e amigo de Durval, seu depoimento seria usado na defesa de Arruda.
Diz o texto: “Com a troca dos interlocutores (da negociação), o valor foi aumentado para R$ 3 milhões e, ao final, chegou-se ao valor de R$ 1 milhão a serem pagos da seguinte forma: R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) em dinheiro na entrega da declaração assinada, como garantia, R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) após a oitiva a ser prestada na Polícia Federal na data de hoje, desde que condizente com a declaração assinada e já em poder de Antonio Bento, e o restante seriam pagos em três parcelas de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) mensais”.
O depoimento segue: “QUE além dos valores acima descritos, o depoente também receberia uma conta garantida no BRB, contratos de publicidade no GDF, quitação de sua dívida junto à CEB, no valor de quatorze parcelas de R$ 41.000,00 (quarenta e um mil reais), dentre outros benefícios que poderiam surgir”
Com esses depoimentos, Sombra foi “catapultado”, como explicou um investigador do caso ao iG, a um nível maior que o próprio Durval, pivô do inicio do escândalo. Foi Sombra que incentivou Durval a entregar o vídeo de Arruda, divulgado pelo iG em primeira mão no dia 28 de novembro, ao Ministério Público e à Polícia Federal.
Os depoimentos foram dados ao delegado Alfredo José de Souza Junqueira e aos promotores do Ministério Público do Distrito Federal Sergio Bruno Cabral Fernandes e Eduardo Gazzinelli Veloso.