do R7
Há casos de quem ficou sem imóvel antes de casar e de quem adoeceu com o calote

Um dos sonhos mais acalentados pela maioria dos brasileiros se transformou em um pesadelo interminável para, pelo menos, 3.000 pessoas – todas compradoras de um apartamento prometido e não construído pela Bancoop (Cooperativa dos Bancários de São Paulo). O R7 ouviu três casos. Teve quem ficou sem imóvel às vésperas do casamento, quem continua à espera na velhice e quem adoeceu com o desgosto do calote.
A bancária Andrea Gil Aloia (32) cuidava dos preparativos para casar quando comprou um apartamento de R$ 140 mil no prédio que o Bancoop pretendia tirar dos alicerces no coração da Pompéia.
Depois de já ter desembolsado R$ 20 mil, notou que o prédio jamais sairia do chão. Às vésperas do casamento – que acabou não acontecendo –, ela precisou se endividar contraindo empréstimos com bancos e com a família para conseguir comprar outro imóvel mais caro com uma construtora que não desse calote.
Para conseguir o dinheiro de volta, ela fechou um acordo nos termos do Bancoop em vez de entrar na Justiça. A cooperativa descontou 10% do valor total que ela havia desembolsado a título de “taxa administrativa”. O restante do dinheiro foi pago em 36 parcelas de R$ 650,00, tudo como previa o contrato. Afirmou Andrea: – Além de receber picado, precisei esperar 12 meses após a rescisão contratual para só então começar a receber o dinheiro […] Não fiquei satisfeita, mas foi o que deu pra fazer.
Já o casal Clóvis Pardo (68) e Ana Peres Pardo (65) precisou de 37 anos de casamento e R$ 100 mil para quitar um apartamento em 2005, mas seu imóvel jamais foi entregue. Além do calote, o Bancoop começou a enviar uma cobrança de R$ 30 mil a título de “resíduo”. Era a condição para que a obra continuasse.
– Eles alegaram que custou mais do que o previsto e por isso a gente teria de pagar esse valor a mais.
A mesma carta de cobrança chegou para outro cooperado, o aposentado Oscar Costa Júnior (52). No caso dele, no entanto, o boleto era de R$ 35 mil, resíduo de um apartamento avaliado em R$ 68 mil que também não saiu do panfleto da cooperativa.
De acordo com ele, a Bancoop passou a cobrar mais intermediárias, o que o obrigou a fazer um empréstimo de R$ 40 mil, que ainda não foi quitado.
Ele atribui ao estresse provocado pelo calote do Bancoop o desgaste de sua saúde. Epilético e com um câncer no pulmão, ele gasta R$ 600 por mês em remédios:
– Agora eu sei que o estresse mata.
Procurada pelo R7, a assessoria explicou que a Bancoop é uma cooperativa que tem como finalidade construir imóveis a preço de custo, de forma autofinanciada. Disse ainda que “a entrega dos imóveis depende do esforço conjunto dos cooperados. Se o preço inicialmente estimado não permite a conclusão da obra, é preciso que haja divisão dos recursos adicionais para a finalização do empreendimento. Essa condição consta do contrato de adesão assinado por cada cooperado. Vale lembrar que as decisões são aprovadas sempre em assembleia geral de cooperados de cada empreendimento.”