do G1
Pleito deve ser um dos mais disputados das últimas décadas. No total, 650 vagas estão em disputa na Câmara dos Comuns.
Começaram nesta quinta-feira (6) as eleições legislativas mais disputadas das últimas décadas no Reino Unido, para renovar o quadro de seu principal órgão político, a Câmara dos Comuns. No total, são 650 vagas em disputa. O país, que é uma monarquia parlamentarista, adota o sistema de votação totalmente distrital, ou seja, cada membro do Parlamento (MP) – função muito equivalente ao deputado – é eleito em uma determinada circunscrição.
O partido que obtiver a maioria absoluta das vagas, ou seja, a metade mais uma (nessa eleição, 326), terá o controle da mais importante casa legislativa do país (a outra é a Câmara dos Lordes, cujas cadeiras são ocupadas por direito hereditário ou nomeação da Rainha), e poderá escolher o primeiro-ministro e assumir o controle do Poder Executivo.
Entretanto, como o sistema é distrital, o partido que obtiver o maior número de votos no geral pode não ser necessariamente o que ocupará o controle da casa. Embora esses episódios sejam raros, a possibilidade de que eles ocorram desta vez é real.
De acordo com todas as mais recentes pesquisas de opinião, o Partido Trabalhista do premiê Gordon Brown, que está no poder desde 1997, amarga um vexatório terceiro lugar. Seus tradicionais rivais do Partido Conservador, sob a liderança de David Cameron, são apontados como favoritos ao primeiro lugar, embora tenham sofrido uma queda.
Mas como as pesquisas apontam o voto proporcional, essa condição pode sofrer uma reviravolta dependendo da distribuição de eleitores de cada partido nas circunscrições.
A principal novidade, porém, e que provoca todo o atual quadro de desequilíbrio, está no crescimento da até então distante terceira força política do país: o Partido Liberal-Democrata, capitaneado por Nick Clegg, um político jovem, carismático e até então pouco conhecido. Ele é apontado como o principal responsável por colocar os “Lib-Dems” em segundo lugar nas pesquisas. Nas últimas semanas, estas indicaram uma diferença relativamente pequena entre os três concorrentes.
Pesquisa divulgada na segunda-feira (3), realizada pelo instituto You Gov e encomendada pelo jornal “The Sun” aponta que os conservadores contam com 35% dos votos gerais, sete pontos percentuais à frente dos Trabalhistas e Liberal-Democratas, empatados.
Parlamento truncado
Caso esses números correspondam à futura distribuição de vagas no Parlamento, muito possivelmente nenhum partido obterá a quantidade necessária de cadeiras no Parlamento para governar sozinho.
Esta a hipótese fatalmente levaria à formação do que é conhecido por “Hunged Parliament”, ou “Parlamento truncado” (ou enforcado, na tradução literal), fato que ocorreu pela última vez, em 1974. Isso obrigaria ao partido que obteve o maior número de MPs se aliar com um de seus grandes concorrentes para formar um governo de coalizão.
Para que o “truncamento” não ocorra, os trabalhistas, atual maioria na Câmara, teriam de perder 23 dos 356 MPs que elegeram na última eleição, em 2005, para permanecer no poder (no total, só obtiveram 35% dos votos). Os conservadores, por sua vez teriam de ganhar 116 assentos a mais que os 198 obtidos da última vez (32% dos votos proporcionais). Os Liberal-Democratas, que da última vez só elegeram 62 membros (e somaram 22% da preferência do eleitorado), precisariam eleger mais 264.
Politicamente, o “Parlamento truncado”é possibilidade temerária especialmente para o Partido Conservador. Mesmo que obtenha o maior número de MPs isoladamente, pode ficar fora do governo caso ocorra uma aliança entre Trabalhistas e Liberal-Democratas.
Nick Clegg já afirmou que aceitaria uma coalizão com os Trabalhistas, com quem possuem alguma afinidade ideológica e programática, desde que Gordon Brown não seja o premiê. A possibilidade de aliança com os conservadores foi rechaçada por Clegg, que acusou publicamente Cameron de não possuir uma agenda de reformas e progressista.
Paralisação
Se a aliança entre os partidos de Bown e Clegg não ocorrer, a indefinição é ainda maior. Nesse caso, os conservadores poderiam tentar governar sem a maioria, através alianças de ocasião. Outra possibilidade, aparentemente inviável segundo as pesquisas, seria se Cameron obtivesse a governabilidade com o apoio dos partidos pequenos, que geralmente representam uma parcela pouco significante da casa (em 2005, só elegeram 30 MPs).
O cenário de incerteza pode levar à convocação de novas eleições se não houver qualquer acordo ou o Parlamento se encontre em crise por falta de liderança. Como ocorreu em 1974, quando a indefinição causada pelos resultados do pleito realizado em fevereiro obrigaram à outra disputa em outubro do mesmo ano.
Na eventual situação de aliança majoritária entre Trabalhistas e “Lib-Dems”, o novo primeiro-ministro seria provavelmente o líder do partido com mais representantes, o que daria o cargo a Clegg. Por sua vez, os Trabalhistas temem que o partido de Clegg lhes tome historicamente a preferência do eleitorado com perfil mais progressista e de centro-esquerda.
O tradicional jornal londrino “The Guardian”, terceiro maior em circulação no país, é um importante exemplo. Após passar anos declarando seu apoio ao Partido Trabalhista, publicou em seu editorial na última sexta-feira (30 de abril), com o título “O momento Liberal chegou”, sua mudança na preferência partidária. Também defendeu uma reforma política que adotasse uma representação proporcional, pauta defendida por Nick Clegg. Na mesma edição, o diário publicou uma entrevista com o líder liberal, no qual ele considerava seu partido como “herdeiro natural da preferência dos eleitores britânicos progressistas”.
Os trabalhistas conseguiram o apoio declarado do “Daily Mirror”, enquanto os conservadores, do “Financial Times”.