O Dia
Romário é o entrevistado da coluna deste domingo. O deputado federal tirou o terno e abriu as portas de seu condomínio, na Barra, para receber este colunista. Num bate-papo descontraído, o Baixinho não fugiu a nenhuma pergunta. Romário assume que gostava de dormir até bem tarde antes de ocupar sua vaga em Brasília.
“Aprendi a acordar cedo e isso era uma coisa que eu odiava. Às vezes, acordo às cinco da manhã. Quando tenho que ir trabalhar em Brasília, chego lá às 9h30, enquanto muitos políticos só chegam às 14h”, afirmou. O ex-jogador também dá sua opinião sobre o casamento gay, conta como era a sua época na Seleção Brasileira de Futebol e ainda manda um recado para Renato Gaúcho, que diz ter ficado com cinco mil mulheres: “Parabéns, hein, amigo! Tem que respeitar esse malandro”. E, apesar de não negar que adora mulher, garantiu estar longe da marca divulgada pelo amigo. Confira a íntegra a entrevista:
Leo Dias: Você foi considerado um dos melhores deputados de 2011 por um jornal. Foi uma surpresa para você?
Romário: Sim. Nos últimos tempos, algumas pessoas têm me visto como um inimigo da Globo e da família Marinho. Acho que é o contrário. Sempre respeitei, tive muito carinho e sou grato por tudo que eles fizeram por mim. Pode ter havido, em algum momento, problemas pelo fato de eu ter trabalhado em outra emissora, mas é até bom aproveitar essa oportunidade para dizer que foi um trabalho [ele foi comentarista da Record no Pan].
Leo Dias: Você achou que ficou queimado com a Globo quando assinou com a Record?
Romário: Não. Na verdade, não assinei contrato para receber. Eu fui convidado…
Leo Dias: Mas você ganhou?
Romário: Infelizmente, não. Eu até queria ganhar, porque fui fazer um trabalho, mas 15 dias antes de assinar o contrato, fiquei sabendo que era proibido. A televisão é uma concessão pública e o político não pode receber e ter contrato com uma empresa estatal e muito menos com empresas que são concessão pública.
Leo Dias: Mas e o Wagner Montes,que é apresentador na Record e parlamentar?
Romário: Existem alguns casos de exceção, como Wagner Montes, Tiririca, Garotinho. Pode ser que eles tenham uma outra forma de contrato e que já não vigorava quando fui fazer o trabalho na Record.
Leo Dias: Gostou da experiência?
Romário: Adorei. Existe uma possibilidade de a emissora me convidar mais uma vez.
Leo Dias: Mas… de graça?
Romário: Eu iria. Iria mais amarradão se eu pudesse receber…
Leo Dias: Mas você não recebeu nada mesmo?
Romário: Não. O que recebi foi a minha passagem, as da minha mulher e das minhas filhas. Elas ficaram lá dez dias, eu fiquei 18 e foi uma experiência do c…! Eu já tinha feito comentários sobre futebol na TV, na Globo, em 1998, quando fui cortado da Copa da França. Mas na Record foi diferente. Tive um espaço legal.
Leo Dias: Você recebeu proposta do prefeito do Rio para apoiá-lo na campanha política deste ano? Você se candidataria?
Romário: Não. O meu partido já tem um acordo de apoiar a prefeitura do Rio, no caso o Eduardo Paes, desde a eleição passada. Por isso, é impossível eu vir a ser prefeito.
Leo Dias: O Paes não te ofereceu o cargo de secretário?
Romário: Ele não me ofereceu nada. A minha vida como político, até o dia 2 de fevereiro de 2015, vai ser, em princípio, como deputado federal.
Leo Dias: Você vai ser candidato à reeleição?
Romário: Não. Por isso que eu trabalho 10, 11 horas por dia quando os políticos, em geral, trabalham seis. Não quero deixar de fazer as coisas.
Leo Dias: Sua rotina hoje é diferente de três anos atrás?
Romário: Completamente. Aprendi a acordar cedo e isso era uma coisa que eu odiava. Às vezes, acordo às cinco da manhã. Quando tenho que ir trabalhar em Brasília, chego lá às 9h30, quando muitos políticos chegam às 14h. Em Brasília, às quartas e quintas, às 9h já estou no gabinete trabalhando. Agora, já me acostumei. Eu estava condicionado a acordar tarde. Comecei a acordar cedo a partir de agosto de 2010, quando comecei a campanha. Fui panfletar na Central do Brasil às 4h da manhã.
Leo Dias: Ali você viu que o Rio é diferente?
Romário: Eu já tinha certeza disso. Eu imaginava que seria um mundo muito diferente do que eu vivia, e não deixa de ser, mas o que eu entendi é que, se você quer fazer, quem tem essa bandeira – bandeiras brancas, como as minhas, relacionadas às crianças, aos deficientes e ao combate às drogas – tem menos dificuldades que os outros deputados para concretizar os projetos.
Leo Dias: Você seria deputado se não existisse a Ivy (sua filha portadora da Síndrome de Down)?
Romário: Acho que não. Nunca fui de acompanhar o dia a dia da política, mas sempre li um pouco. Digo que não sou político, sou deputado federal. Continuo sendo o Romário.
Leo Dias: Como você acha que vai ser sua vida daqui a alguns anos se não estiver como deputado federal?
Romário: Quero fazer alguma coisa relacionada ao esporte, principalmente ao futebol.
Leo Dias: O seu discurso, hoje, é diferente?
Romário: Nesses 11 meses aprendi algumas coisas e me comunico diferente, sim. Quando estou com minha rapaziada, eu continuo sendo o Romário. Quando coloco o terno e a gravata, eu já sou outro.
Leo Dias: E quem é esse cara que está aqui agora?
Romário: Os dois. Estou aqui descontraído, à beira da piscina, e falando sobre política.
Leo Dias: E na noite?
Romário: Sempre fui bastante boêmio.
Leo Dias: Bem boêmio…
Romário: Bem, não! Bastante, pra c…, muito! Não estou dizendo que isso é mérito, mas nunca fui de beber, de fumar e tal. Hoje quando tomo duas tacinhas de champanhe, já fico alegre e paro. Mas dei uma parada com a noite. Agora, nas férias, é que estou saindo mais.
Leo Dias: Você sente falta?
Romário: Claro que sinto. Quem é que não gosta de ver uma mulher gostosa na sua frente se mexendo? Mas tive problemas no meu casamento por conta desse negócio de noite e, pra continuar casado, tive que mudar um pouco.
Leo Dias: Você já declarou que é contra a CBF, mas esteve lá para lutar pelos deficientes. Como foi a conversa com eles na ocasião?
Romário: Eu disse pra eles: “Quero deixar uma coisa bem clara. Não estou aqui para fazer acordo com vocês, estou aqui para dizer que se amanhã a CBF fizer alguma merda, eu vou dar porrada em vocês, como sempre fiz”. Mas o que fui fazer lá não se refere só aos deficientes. A Lei da Copa tem 64 artigos e eu sou contra alguns deles. Um diz que, ao adquirir o ingresso para um lugar no estádio, você tem que ir ao jogo. Caso contrário, a Fifa pode te multar e tem o poder de te julgar. A Fifa quer ser um Estado dentro do nosso Estado.
Leo Dias: Há mais pontos problemáticos nesses artigos?
Romário: Sim. Um exemplo: vamos ao Maracanã. Eu vou de camisa branca e vocês, por acaso, também vão. Sentamos no mesmo lugar. A Fifa entende que aquilo é um marketing de emboscada. Se a cerveja do patrocinador não é da cor branca, a Fifa tem o direito de chegar e tirar a gente do estádio. Não posso, como brasileiro e como deputado, deixar que ela determine o que é certo e o que é errado. A Fifa é uma entidade privada que vai sair daqui com 5 bilhões de euros de lucro.
Leo Dias: Como ex-jogador, o que acha de Adriano passar por tudo que tem passado?
Romário: Todo mundo passa por fases positivas e negativas. O Adriano passa por fases negativas, mas parece que ele mesmo acha os problemas.
Leo Dias: Quais foram as suas fases negativas?
Romário: Muitas. Já passei três jogos sem fazer gols.
Leo Dias: Mas fora de campo…
Romário: Há três anos, tive um problema financeiro e passei por um bloqueio judicial.
Leo Dias: Mas é diferente…
Romário: Ah, sim, fases como essa de um tiro na mão de uma pessoa… Parece que uns procuram, o Adriano acha. É f…
Leo Dias: Mudando o assunto: tinha muita mulher na Copa de 1994?
Romário: Mulher tem em todo lugar… As concentrações têm muita segurança. Mas eu, quando tive minha Copa, aproveitei.
Leo Dias: E é a favor do casamento gay?
Romário: Sou, pô. Eu sou a favor da felicidade. Cada um dá o que é seu e f…-se os outros.
Leo Dias: Renato Gaúcho disse que pegou mais de 5 mil mulheres…
Romário: É um direito dele.
Leo Dias: Você também chegou a esse número? Calculou alguma vez?
Romário: Eu, não, pô! Quem me dera!Cinco mil mulheres? Parabéns, hein, amigo! Tem que respeitar esse malandro.