Mulher descreve mortes de jovens em Saramandaia, na capital: ‘ele pediu pelo amor de Deus’

Rede Bahia | G1

Dois jovens, de 14 e 19 anos, foram mortos em Saramandaia, em Salvador. Moradores foram surpreendidos por tiros da polícia em campo; PM nega.

Uma moradora de Saramandaia, em Salvador, que prefere não se identificar, diz ter assistido a morte dos dois jovens na noite de segunda-feira (30) durante uma operação da Polícia Militar. “Já chegaram atirando. Teve um que se ajoelhou aos pés do policial e pediu pelo amor de Deus, que não era para matar. O policial foi e matou”, relata.

Amigos, familiares e vizinhos das vítimas, que tinham 14 e 19 anos, denunciaram o crime através de um protesto que congestionou o trânsito da avenida ACM, em Salvador, na manhã desta terça-feira (31).  Segundo os moradores, o crime teria sido em um campo de futebol onde estavam cerca de 30 pessoas, que participavam ou assistiam o jogo. Testemunhas contam que era por volta das 21h quando policiais desligaram a luz dos refletores e entraram atirando. Uma cápsula de pistola foi localizada no campo nesta terça-feira.

“Ele deu um tiro no barro lá, mas não pegou em minha perna, não. Depois ele deu um tipo para cima para eu parar, eu não parei”, afirma um jovem, que estava no local, mas também não quer ser identificado. Moradores afirmam que mais dois outros jovens estão sumidos desde a ocasião do crime, mas eles não deram os nomes dos desaparecidos.

Na casa de uma das vítimas, a mãe Jaciane Conceição vive a dor e revolta pela morte violenta. “É um sofrimento, né. Como mãe, a gente nunca quer peder um filho na maneira que perdeu”, lamenta. “Eu espero a Justiça, meu filho não era vagabundo, não era traficante, não andava com envolvimento com ninguém para fazerem uma besteira dessa com meu filho, tirar a vida do meu filho”, diz a mãe.

Saramandaia é um bairro carente e um dos mais violentos de Salvador. Cerca de 80 mil pessoas moram na localidade. O protesto dos moradores interditou o trânsito por mais de uma hora pela manhã na avenida ACM. A avenida começou a ser liberada por volta das 11h, o que possibilitou o melhor fluxo também nas avenidas Tancredos Neves e Paralela.

Os moradores se concentraram sob a passarela do Detran, interrompendo o fluxo de veículos no sentido Rótula do Abacaxi. A Polícia Militar foi acionada e acompanhou a realização do protesto. Os manifestantes usaram cartazes e queimaram pedaços de madeira na pista, apagados pelo Corpo de Bombeiros.

A PM informou que esteve no bairro de Saramandaia para apurar uma denúncia de que cerca de  quinze homens armados tinham anunciado um “toque de recolher” e faziam festa com drogas. Ao chegar ao local, os policiais teriam sido recebidos a tiros e revidaram acertando os jovens, que, segundo a polícia, estavam com armas e drogas. Mesmo assim, a PM diz que vai apurar as denúncias dos moradores sobre as mortes e os desaparecimentos.