Economista avalia que situação das contas reprovadas é contornável, mas que “o simples fato do TSE aceitar uma denúncia” indica que algo gravíssimo foi descoberto.
| Folha Online
Nos últimos dias, o economista Delfim Netto escreveu artigos mais amenos sobre os rumos do governo. Na avaliação dele, a presidente Dilma Rousseff fizera uma espécie de mea culpa e ele passou a vislumbrar um cenário mais fértil para uma recuperação tanto política, quanto econômica.
“Acho que ela fez no dia 2 o seu melhor discurso. Está tentando reassumir. Foi uma espécie de mea culpa, não muito claro, mas reconhecendo – está certo – que precisa dar suporte para o ajuste fiscal, fazendo uma mudança no ministério”, diz. O seu estado de ânimo, porém, mudou na noite de terça-feira, quando soube que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) havia reaberto a ação que pede a impugnação dos mandatos de Dilma e do vice Michel Temer por suposto abuso de poder político e econômico na eleição. “O simples fato de o TSE ter aceito a denúncia – que não é prova de que algo aconteceu – me induz a conclusão de que eles têm indicação de houve realmente alguma violação no processo eleitoral”, diz Delfim.
Numa comparação, ele considera a discussão no TCU um “truque”. “Não adianta querer discutir se houve ou não pedalada. Claro que houve. E o mais importante: o governo reconheceu que houve. Na minha opinião, isto não é uma causa suficiente para produzir um impeachment”, diz. Delfim defende que seria necessário algo mais concreto para invalidar uma eleição presidencial: “Isto aqui não é uma pastelaria. Você precisa de uma prova material, robusta, de que houve um desvio de função.”
O processo no TSE “cria um fato novo” nesta direção, na avaliação dele, porque o crivo de análise, até pela natureza da instituição, será mais severo. “No TSE, o processo só terminará se houver uma prova evidente, uma prova material, de que houve abuso de poder econômico.” Na avaliação dele, se ficar comprovado alguma irregularidade, o Brasil sairá mais fortalecido do processo, ainda que seja desgastante. “Se houver abuso de poder econômico, revogar uma eleição é uma demonstração de inteireza institucional inacreditável. Ninguém fará nenhuma objeção, de nenhum natureza”, avalia. Também pesa na avaliação de Delfim o fato de o arranjo político com o PMDB não ter surtido o efeito esperado: “Quando você olha tem a impressão de que aplicaram 171 no governo. Um grupo do Congresso vendeu para Dilma o que não tinha. Isso não é nem um passo adiante. É uma grande confusão”, diz.