A votação aconteceu durante reunião extraordinária realizada na sede da Secretaria Municipal de Cultura, e contou com a presença dos nove conselheiros.

Em uma decisão histórica para a preservação da memória e da arquitetura da cidade, o Conselho Municipal de Cultura (CMC) aprovou, por unanimidade, na manhã desta quinta-feira (23), o tombamento de cinco imóveis históricos de Vitória da Conquista, entre eles, o prédio antigo da Câmara de Vereadores. A votação aconteceu durante reunião extraordinária realizada na sede da Secretaria Municipal de Cultura, e contou com a presença dos nove conselheiros e representantes do Núcleo de Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Município/NPPHACM.
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O processo de oficialização do tombamento teve seu marco formal quando o presidente da Câmara, Ivan Cordeiro, acompanhado do diretor de comunicação Fábio Sena, protocolou na Secretaria Municipal de Cultura o documento que formaliza o pedido de tombamento do prédio. O edifício hoje abriga o Memorial Manoel Fernandes de Oliveira e alguns setores legislativos, como a presidência.
“O tombamento do edifício da Câmara Municipal integra um conjunto de ações que visam a preservação da memória do município de Vitória da Conquista, pois o prédio está inteiramente ligado à vida social, política, econômica e cultural local e merece o reconhecimento público de patrimônio cultural”, afirmou Ivan Cordeiro.

Para a vereadora Cris Rocha (MDB), que representa a Câmara no Conselho de Cultura, a decisão representa um resgate cultural: “Este tombamento é, acima de tudo, um ato de justiça com a memória da nossa cidade e com as pessoas que a construíram. Proteger este edifício, com sua arquitetura singular, é garantir que as futuras gerações possam tocar e ver a história viva de Vitória da Conquista. É a materialização do nosso dever de salvaguardar a identidade e a cultura do nosso povo”, disse.
Também conselheiro de Cultura, o vereador Ricardo Gordo (PSB) ressaltou o aspecto legal e a homenagem ao trabalhador: “A aprovação unânime no Conselho de Cultura reafirma que este prédio atende a todos os critérios de valor histórico, arquitetônico e social exigidos pela nossa legislação municipal. Ao destacar a obra do mestre Luiz Pedreiro e do artífice Antônio Zabelê, o Poder Público cumprindo seu papel constitucional”, argumentou.
Para o historiador e mestre em Museologia/Patrimônio e Comunicação pela UFBA, Fábio Sena – que integra o Núcleo de Preservação do Patrimônio e ocupa a cadeira do Patrimônio no Conselho de Cultura –, o tombamento do prédio da Câmara certamente servirá de inspiração para que outros edifícios históricos sejam protegidos. “É um processo de patrimonialização tardio, mas extremamente necessário, e cada vez mais urgente. Infelizmente, muito se perdeu do centro histórico de Vitória da Conquista, muita casa antiga deu lugar a estacionamentos e lojas, mudanças que alteraram a paisagem urbana e comprometeram a plástica da cidade antiga”, afirmou Sena.
Localizado na rua Zeferino Correia (antiga Rua Grande), o imóvel, construído em 1910, transcende sua função institucional para se consolidar como um marco inestimável do patrimônio cultural e histórico de Vitória da Conquista. O prédio foi erguido pelo notável mestre-de-obras Luiz Alexandrino de Melo, conhecido popularmente como Luiz Pedreiro.
Originalmente uma residência, o edifício serviu posteriormente como hotel, Fórum e Justiça do Trabalho. Foi adquirido pelo Município na década de 1960, que o restaurou para servir de sede à Câmara de Vereadores e fórum.
Na reforma da década de 60, o edifício sofreu alterações substantivas na parte interna: foi demolida a cozinha, que ficava ao fundo, houve mudança do piso inferior e foi construída uma nova escada no lugar da originalmente helicoidal. Além disso, algumas janelas da fachada e a porta principal, que estavam danificadas, foram substituídas.
O edifício é um exemplar robusto do estilo Ecletismo, com uma composição acadêmica e forte simetria. O primeiro pavimento da fachada contém cinco janelas e uma porta de entrada; o segundo pavimento contém seis janelas com sacadas em forma de púlpito de igreja.

Ilustração do artista Sílvio Jessé
Arquitetonicamente, o edifício é um exemplar robusto do estilo Ecletismo, predominante nas cidades brasileiras no período da Primeira República. Suas características incluem:
Composição acadêmica: forte simetria na fachada e divisão em dois pavimentos.
Singularidade arquitetônica: o sobrado ostenta no pavimento superior sacadas em forma de púlpito de igreja, um elemento de inspiração barroca incomum na arquitetura civil brasileira. Essa característica confere ao bem o caráter singular exigido pela legislação municipal para o tombamento.
Ornamentação simbólica: encimando o telhado, existem quatro estátuas (Apolo, Mercúrio, Diana e Júpiter), atestando a riqueza ornamental do estilo.
Segundo o historiador Mozart Tanajura, esta característica confere ao bem um caráter singular, sendo “talvez o único em toda a arquitetura civil brasileira” por ostentar púlpito de inspiração barroca dentro da perspectiva do eclético. Encimando o telhado, existem quatro estátuas – representando os deuses Apolo, Mercúrio, Diana e Júpiter –, um traço da moda portuguesa que chegou ao Brasil no período colonial.
Homenagem aos construtores
O tombamento é vital, sobretudo, para proteger e honrar a memória de Luiz Pedreiro, cujo legado na moldagem da paisagem urbana de Vitória da Conquista inclui obras de extrema relevância como a reconstrução da fachada do antigo Paço Municipal e a construção do Prédio do Quartel (atual Prefeitura, 1921).
Além disso, o valor do edifício é indissociável da memória do trabalho, representada pela figura do artífice Antônio Zabelê, responsável por cortar e lavrar o madeiramento para a construção do sobrado. A proteção do edifício resgata e honra a autoria do mestre de obras e do artífice popular que garantiram a materialidade da obra.

















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