G1
Polícia já ouviu 15 pessoas. Três vítimas morreram no acidente na quinta-feira (12). Advogado de dono do local admitiu presença de cilindros de gás.
A Polícia Civil já ouviu quinze testemunhas que podem esclarecer circunstâncias daexplosão na lanchonete da Praça Tiradentes, no Centro do Rio. Três vítimas morreram e 17 ficaram feridas na manhã de quinta-feira (12). O delegado Antônio Bonfim Filho pretende ouvir ainda outras 15 testemunhas, entre elas, o dono do restaurante, Carlos Rogério do Amaral.
O dono passou mal e chegou a ficar internado, mas já recebeu alta hospitalar. O depoimento dele deve ser feito no sábado. Fotos divulgadas nesta sexta-feira (13) mostram o interior do prédio onde ficava a lanchonete. Os investigadores querem esclarecer por que havia botijões de cilindros de gás em situação irregular no estabelecimento. Eles também vão encaminhar ofícios para órgãos da prefeitura e do governo do estado.
De acordo com um laudo dos bombeiros, o prédio não tinha autorização para o uso de gás, não sendo admitido qualquer tipo de abastecimento sem autorização prévia. “Como nas plantas que foram apresentadas não constava a existência de restaurante, então no próprio documento do Corpo de Bombeiros já sai claramente explicitado a proibição de utilização de gás”, disse o secretário de Defesa Civil, Sérgio Simões.
No caso do restaurante, desde agosto de 2008, ele funcionava com um alvará provisório, prorrogado cinco vezes pela Secretaria de Ordem Pública. Faltavam os certificados de aprovação dos bombeiros, e inspeção sanitária. O advogado do proprietário admitiu nesta sexta que havia seis cilindros de gás no restaurante “Se a administração pública forneceu o alvará, presume-se, vindo da administração pública, que não há risco nenhum para a sociedade”, disse Bruno.
Durante a manhã, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que não cabe à prefeitura fiscalizar padrões de segurança, mas afirmou que já está sendo apurado se houve alguma irregularidade administrativa. “Melhor apurar. Teve alguma ilegalidade, algum tipo de desvio de conduta, alguém deixou a coisa passar?”
O prefeito pretende rever a legislação relativa à concessão de alvarás provisórios. “Por que é que existe o alvará provisório? É uma tentativa de desburocratizar. Mas essa desburocratização não pode significar em hipótese nenhuma risco. Ao que tudo indica, os procedimentos adotados foram todos legais. Então, é caso de se repensar que tipo de legislação se tem no município pra esse tipo de caso”, disse.
Enterro de vítimas
Sob clima de muita emoção e revolta, as três vítimas foram enterradas na tarde desta sexta-feira (14). No acidente, outras 17 pessoas ficaram feridas, sendo que quatro delas seguem internadas, três em estado grave. Parentes e amigos próximos participaram do enterro do chefe de cozinha Severino Antônio Tavares, de 45 anos, no Cemitério do Murundu, em Realengo, na Zona Oeste. Ele foi considerado um herói pela família. Funcionários do restaurante contaram que ao sentir forte cheiro de gás, ele impediu que outros funcionários entrassem na loja, chegou a sair, mas voltou à loja para tentar conter o vazamento.
“Ele foi um herói. Mas infelizmente aconteceu isso. Ele nunca comentou sobre problemas com gás no restaurante. O gesto dele, de impedir que outros entrassem no restaurante e morressem foi perfeito. Naquele momento, ele foi iluminado por Deus. Ele tinha um coração muito bondoso e protegeu o pessoal”, disse o primo de Severino, Edmilson Tavares, destacando que ele trabalhou 14 anos num restaurante na Lagoa, na Zona Sul, e que estava há pouco mais de um ano no local na Praça Tiradentes.
O corpo de Josimar dos Santos Barros, de 22 anos, sushiman da lanchonete, foi enterrado no Cemitério de Jacarepaguá, no Pechinha, na Zona Oeste. Aos gritos de “Justiça!”, parentes e amigos deixaram o cemitério. Flores brancas e camisas do Flamengo, time de Josimar, foram colocadas sobre o caixão. Os amigos do jovem vestiam camisetas com a foto de Josimar e a frase “Valeu a pena”. No verso da roupa estava estampado a letra da música “Pescador de ilusões”, do grupo O Rappa.
Bastante abalado, o primo de Josimar, Tiago Cosme, disse que a família analisa entrar com uma ação na Justiça contra o dono da lanchonete, Carlos Rogério do Amaral. Ele afirmou ainda que em nenhum momento a mãe de Josimar recebeu um telefonema de conforto dos proprietários.
Revolta marca enterro de jovem
No início da tarde, o sepultamento do jovem Matheus Macedo, de 19 anos, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio, transcorreu em clima de muita revolta e foi acompanhado por cerca de 200 pessoas, segundo funcionários do cemitério. Ele trabalhava em um posto bancário dentro do quartel central dos bombeiros, informaram parentes.
Em um discurso emocionado, chorando muito, o pai de Matheus, Carlos Henrique Macedo de Andrade exclamou: “Rio Antigo, todo mundo fala do Rio Antigo. Mas o Rio Antigo está caindo aos pedaços. Só se fala em Copa do Mundo. Agora está aí, mais uma vítima do descaso das autoridades”.
Câmera registra explosão
Uma câmera de monitoramento da Prefeitura do Rio registrou o exato momento da explosão. Nas imagens é possível ver algumas pessoas paradas do lado de fora do prédio e um pedestre, que passa em frente ao local, no momento em que ocorre a explosão.