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Brasileiros contam como escaparam da morte no Suriname

da Agência Estado

‘Achei que seria assassinado a golpes de facões e machados, escapei porque dei tudo que tinha’, diz paraense

O garimpeiro Fernando Lima, atacado por um grupo de marrons – quilombolas surinameses descendentes de escravos africanos -, desembarcou à noite em Belém, de um avião da FAB, com as marcas da violência do conflito que explodiu em Albina (Suriname) na véspera de Natal: um golpe de facão na cabeça. “Pensei que ia morrer. Os caras estavam furiosos e batiam em todo mundo”, contou Lima, bastante emocionado, abraçado a parentes e amigos.

Ele disse que embora ferido se atirou no rio para escapar da fúria dos homens que o agrediam. Foi socorrido por estranhos que o levaram para um hospital. Agora, não quer mais saber de voltar para o Suriname. “Não quero mais passar por aquilo. Foi horrível”, desabafou. Outro paraense, o também garimpeiro Antonio José Oliveira, 24 anos, enfrentou um dos piores momentos de sua vida.

Ele e outros trinta brasileiros, como Reginaldo Serra, também paraense que estava no voo da FAB, escaparam de ser mortos por marrons durante os distúrbios. Todos fugiram e se embrenharam numa floresta da região, onde passaram a noite escondidos até que os ânimos se acalmassem e o Exército daquele país restabelecesse a ordem na cidade.

Oliveira contou que a fuga para a mata foi um “gesto desesperado”. Sem comida e na escuridão, os brasileiros deixaram a floresta somente às 10 da manhã do dia seguinte, quando o Exército já havia dominado a situação. “Tinha gente batendo e jogando brasileiros na água. Caí no rio e ajudei o pessoal que não sabia nadar”.

O paraense Maurice Dias Alves trabalhava em um mercado que foi invadido, saqueado e incendiado por cerca de 500 pessoas em Albina, no Suriname, na véspera do Natal. “Me tranquei no quarto, mas eles conseguiram arrombar a porta. Achei que seria assassinado a golpes de facões, paus e machados, mas escapei da morte porque dei tudo o que tinha”, contou Alves, por telefone, ao Estado. Levado em um avião da FAB para Paramaribo, o sobrevivente relata que ficou só com a roupa do corpo e teve documentos queimados.

O que aconteceu em Albina?

Foi uma coisa horrível, uma carnificina. Os marrons (grupo que seria responsável pelo ataque) não são humanos. A brutalidade é impressionante.

O que eles fizeram?

Era uma multidão. Todos estavam armados. Era revólver, facão, punhal, terçado, pedaço de pau, até dinamite. Saíram invadindo as casas onde moram os brasileiros e batiam com muita violência. Estupravam as mulheres na frente de todo mundo e roubavam tudo o que encontravam pela frente. Uma coisa monstruosa. Nunca vou esquecer o que vivi na véspera do Natal. Um pesadelo.

Você viu algum brasileiro ser assassinado?

Não, não vi. Ouvi brasileiros, amigos meus de Belém, dizendo que uns 20 brasileiros tinham sido mortos e esquartejados. Não sei se foi isso. Não queriam deixar provas. Eu soube que tem muita gente desaparecida. Não sei se também foram mortos.

Quando começou o ataque, o que você fez?

Na hora em que eles apareceram nas ruas, armados, muita gente correu e se trancou dentro de casa. Eu fui para o meu quarto, na casa do chinês para quem trabalhava, mas os homens invadiram as casas, derrubando portas e janelas. O meu quarto foi arrombado por eles. Tive muito medo.

Na hora, o que pensou?

Eu pensei que iria apanhar até morrer. Os marrons estavam furiosos, queriam sangue. Para não morrer entreguei tudo o que tinha: dinheiro, roupas, documentos. O comércio todo do “China” (apelido do patrão) já tinha sido saqueado. Tive de sair, porque logo em seguida eles botaram fogo em tudo. Horrível, um crime terrível. Não consigo nem lembrar direito. Jogaram até dinamite em algumas lojas e explodiram tudo.

O que ocorreu com o seu patrão?

Não só ele, mas outros comerciantes chineses também apanharam muito. Os índios da região, confundidos frequentemente com brasileiros, também foram espancados. Com a graça de Deus eu estou aqui, vivo para contar a história. Deus olhou por mim e na hora da invasão eles não me bateram. Tive sorte. Se não desse dinheiro, talvez nem estivesse mais vivo.

A polícia do Suriname não apareceu no local para proteger os brasileiros e impor a ordem na cidade de Albina?

Quem apareceu foi o Exército. Se o Exército não aparece, teria morrido muita gente. Os brasileiros feridos e espancados foram levados para hospitais de Albina. Outros brasileiros e chineses foram levados para o quartel do Exército. Os agressores foram atrás e tentaram invadir o quartel. Os soldados tiveram de dar tiros para o alto e só assim eles desistiram da invasão.

Agora, o que pretende fazer? Quer continuar no Suriname?

O meu problema e o de muitos brasileiros atacados por esses monstros é que perdemos tudo. Fomos roubados e estamos até sem documentos. Vou recomeçar minha vida por aqui. No Pará não tem emprego. É melhor ficar no Suriname.

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