por Maurício Grego | Info
O comando por gestos e a portabilidade extrema do iPad podem fazer com que os computadores tradicionais fiquem restritos a aplicações específicas.

Quando escrevi a reportagem de capa da INFO de março, sobre o iPad, eu estava convencido de que o tablet da Apple seria um sucesso. Estava claro que essa não era uma iniciativa isolada da turma da maçã, mas um movimento de toda a indústria de computadores. HP, Asus, Dell e muitos outros fabricantes também tinham seus tablets no forno. Google e Microsoft vinham trabalhando em soluções de software para esses dispositivos. Mas a visão predominante naquele momento era que o tablet seria mais um complemento para o PC – não um substituto para ele. Não seria um item de primeira necessidade como um celular ou o próprio PC, mas um supérfluo atraente, que muita gente desejaria ter.
Agora que o iPad já está sendo entregue aos primeiros compradores (estamos testando um no INFOLAB), outra análise do fenômeno começa a emergir – e ela é radical. Há muita gente achando que a chegada do iPad e de outros tablets sinaliza o fim da era do PC. A revista americana Wired dedicou uma reportagem de capa a essa visão. Nela, pessoas importantes foram convidadas a escrever sobre o tema. Uma delas é Nicholas Negroponte, o homem do laptop de 100 dólares. Ele diz que a próxima geração do XO, o micro portátil educacional que sua fundação criou, adotará a forma de tablet.
Interface gráfica
O fato é que a interface gráfica do PC foi criada há mais de 40 anos. As peças que a compõem – teclado, mouse, janelas, ícones, cursor, menus – foram reunidas aos poucos. O quadro se completou em 1984, quando a Apple (que se inspirou no trabalho da Xerox) anunciou o Macintosh. Nos 26 anos seguintes, essa fórmula foi aperfeiçoada e ganhou o mundo a bordo do Windows e de outros sistemas operacionais. Tivemos um longo processo de polimento, mas nenhuma mudança radical na interface dos PCs.
Agora, depois de 26 anos, o iPad propõe uma mudança radical. Não há cursor na tela – o dedo cumpre esse papel. O usuário inclina o aparelho, agita, esfrega a tela, e, assim, se faz entender pela máquina. Todas as tecnologias usadas no iPad (e no iPhone) já eram conhecidas pelos fabricantes. Mas a Apple saiu à frente dos demais porque tinha a experiência do iPhone para se apoiar. Já tinha 140 mil aplicativos na App Store e um sistema operacional pronto, voltado para dispositivos com tela multitoques. Ponto para Steve Jobs e companhia.
Fim do PC?
Não é a primeira vez que alguém diz que a era do PC está chegando ao fim. Até hoje, nunca levei a sério essas profecias por uma razão óbvia – não havia substituto para o PC. Cabe perguntar, então, se o tablet é um substituto à altura. E a resposta é que, para muitos usuários, é. A portabilidade do tablet é muito superior à de qualquer notebook ou netbook. E não é só uma questão de tamanho. Como um celular, o iPad fica sempre ligado. Começa a funcionar assim que se aperta o botão. Não é preciso esperar pelo boot. Pode ser usado com uma só mão. Sua bateria dura mais que a de um notebook. E ele faz muitas das coisas que a maioria das pessoas quer fazer no micro – e-mail, web, jogos, música, filmes e até algumas tarefas de produtividade como criar planilhas, apresentações e textos.
Aqui, chegamos ao ponto em que o tablet deixa a desejar. Pessoas que escrevem muito – como nós, jornalistas – precisam de um teclado de verdade. Um teclado virtual, como o do iPad, não é o bastante. Seria necessário usar um teclado externo para escrever textos longos nele. E não vejo perspectivas de, num prazo de alguns anos, um tablet como o iPad rodar aplicativos complexos como o Excel e o Photoshop. E, falando em Photoshop, a tela grande de um micro de mesa ainda é, sem dúvida, o melhor lugar para editar fotos e filmes. Mas há milhões de usuários de computador que nem sabem mexer no Photoshop, e, no Excel, nunca vão além das planilhas mais basiquinhas. Para esses usuários, um iPad é suficiente.
















@vitoriadaconquistanoticias
Grupo WhatsApp