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Prisão e ressurreição: Tuta abre o jogo sobre cadeia, família e carreira

Globoesporte.com

Ex-atacante de grandes clubes, Tuta ainda lida com o drama da prisão por falta de pagamento de pensão alimentícia, na semana passada.

Acostumado em toda a carreira a encontrar espaços na pequena área, o atacante Tuta teve de driblar outro tipo de marcação na semana passada. E em um local bem menor e nada amistoso. Ex-jogador de grandes clubes do futebol brasileiro, como Fluminense, Flamengo, Palmeiras e Grêmio, ele foi preso por falta de pagamento de pensão alimentícia. Durante 30 horas, ficou confinado em uma cela de 12 metros quadrados, com outros 11 detentos.

Aos 37 anos e em um clube de pequena expressão – atualmente defende o União Barbarense, time que disputa a Série A2 do Campeonato Paulista –, Tuta chegava ao fundo do poço. Sem dinheiro para pagar a dívida de R$ 85 mil, o atacante pensou até em abandonar a carreira. Mas, em suas palavras, conseguiu a “ressurreição”. No sábado, dois dias após ser preso, entrou em campo, marcou um gol e ajudou o time a vencer o Atlético Sorocaba, na primeira partida da segunda fase do Estadual.

Nesta quinta-feira, exatamente uma semana após o “episódio mais humilhante da vida”, Tuta recebeu a reportagem na Toca do Leão, estádio em que o União manda suas partidas. Não se esquivou de nenhuma pergunta e, até bem-humorado, contou como foram os momentos na cela. Fez ainda um resumo sobre a carreira e disse quais são seus planos para o futuro. O sorriso no rosto só foi deixado de lado quando ele falou sobre a ex-mulher e a família. Com olhos marejados, Tuta disse que, desde a prisão, não recebeu ligações da mãe ou dos seis irmãos

Globoesporte.com: Como você recebeu a notícia de que seria preso? 
Tuta – Eu cheguei, treinei normalmente, e aí, quando acabou o treino, desci para o vestiário. Estou lá na banheira de gelo, aí vem o supervisor, o Danilo, e diz: “Tuta, a polícia tá aí, com mandado de prisão. Como você não me avisou?”. Falei que eu sabia que tinha alguma coisa, mas meus advogados estavam tratando, buscando um acordo a respeito. Não sabia que ia chegar a este ponto. Aí os policiais foram lá no vestiário e disseram: “A gente não quer te expor, nem precisa ir no nosso carro, vai no carro do Danilo”. Fui numa boa. Cheguei na delegacia e liguei para os advogados. Fiquei esperando um retorno. Chegou umas 14h, e falaram: “Agora não tem como. Vamos esperar ali no posto, para sair um pouco da imprensa”. Fomos, almoçamos e ficamos esperando a advogada. E ela disse: “Estamos correndo atrás”. E nada. E os policiais: “Temos que te levar pra Casa Branca (local em que ficou preso)“. Vamos, né? Mas com o coração apertado. Fui no banco de trás, não fui no chiqueirinho, nem algemado. Chegamos por volta das 15h30, 16h. Aí eu vi que não tinha mais jeito, que não tinha chegado o documento. Liguei para minha esposa para dar a notícia, e ela desabou. Passou mal no trabalho, teve até que ir embora. Depois eu perdi a comunicação, porque você deixa todas as coisas. Caramba, que situação.

O pessoal já te reconheceu de cara?
Tinha um palmeirense, que já falou: “Tu vai sair logo. Cadê seus advogados?”. Estava zoando. Eu falei que estavam correndo atrás. Aí dá 17h, 18h, e nada. Não pode usar telefone. Toda hora ficava falando com o carcereiro. “E aí, a advogada ligou?”. Foi angustiante, mas, graças a Deus, passou. O pessoal foi muito gente boa. Pediram autógrafo em várias camisas, até do Corinthians.

Como foi a reação da sua família?
Se eu contar, não vai acreditar. Meus irmãos e minha mãe não me ligaram até hoje, nem para minha esposa. Sempre tive (relação boa). Isto que é duro. Sua mãe nem ligar para sua esposa para saber o que esté acontecendo. Não liga para você depois. É difícil. Eles iam na minha casa. Isto dói. Meu pai (falecido em outubro do ano passado) e minha mãe nunca me apoiaram, diziam que era coisa de vagabundo. Aí (depois que ficou famoso) é outra relação, né? Tá sempre pedindo dinheiro, se tem alguma coisa. Comprei casa para eles. Mas é a vida.

No que se apoiou enquanto estava lá dentro?
No pessoal que estava na mesma situação. Tinha uns lá que já estavam há 50 dias. Outro que pegou 90. Você conversa, joga baralho, fica nas brincadeiras ali. Não tinha outra coisa para fazer. Ficavam contando umas piadas sem graça, mas tinha que rir. Você não consegue dormir. Imagina uma cela com 12 metros quadrados, com 12 homens. Para ir ao banheiro, tinha que ir desviando. Um estica, outro encolhe. Eu acho que o cara que mora na rua mora melhor do que eles, que estão lá. O cara da rua tem liberdade. Lá não tem para onde ir, é duro. O café da manhã é um pão com cheiro de manteiga.

Como é sua relação com suas duas filhas do ex-casamento?
Tenho pouco contato, nem com minha ex tenho muito contato. É difícil. Não poderia chegar a este ponto, mesmo porque sempre fiz o possível e o impossível pra ajudá-las. Acho que em nenhum momento existiu compreensão da parte dela. Foi determinado que no Natal elas ficariam comigo. Quando ia buscá-las, a mãe dizia que elas não queriam ir. Chegou ao absurdo de dizer que era por causa daquele caso Nardoni. Colocou na cabeça das meninas. Isso me deixa profundamente triste. Ela falou para não entrar na Justiça, porque imagina o constrangimento de ir à polícia, falar com um juiz, para levá-las à força. Acabei abrindo mão para não ter esse trauma. Aí ela chega neste ponto.

Quando começou a briga judicial?
Foi em 2010, quando joguei em alguns clubes que não me pagaram. Tive um pouco de dificuldade em pagar. Falei com ela que estava com um pouco de dificuldade. E agora, no final, eu estava pagando, mas ficaram uns para trás, e ela queria receber de qualquer jeito.

Muito clube ainda te deve?

Não são muitos, não. São poucos. Tem o Paulista de Jundiaí, que me deve desde 1997, o Náutico e o Resende. Tem juros, um monte de coisa. Mas não faço a mínima ideia (de quanto é a dívida).

O valor cobrado pela pensão é irreal com seus rendimentos atuais?
Já fiz a revisão. Estou pagando dois salários mínimos, um para cada filha. O que ela está me cobrando foram oito meses que ficaram para trás. Fiquei desempregado. Em 2010, 2011, quase não atuei, por causa de uma lesão. Então isso pesou no meu orçamento, pelos valores serem altos. Eram R$ 7 mil e antes, R$ 10 mil. Passar três anos pagando R$ 10 mil para uma pessoa que mora no interior de São Paulo, numa cidade pequena… Não é possível que estejam passando fome. E o tanto de patrimônio que deixei. Tinha casa em Curitiba, terrenos em condomínios fechados em Araçatuba, Birigui, rancho. Deixei previdência para ela. Não é possível que tenha gasto tudo.

Você não é o primeiro jogador a ser preso por não pagar pensão alimentícia. É muito difícil para um atleta administrar a parte financeira?
Estou conseguindo administrar minhas coisas, mas é difícil. Quando você está em times grandes, tem uma patamar de vida. Quando passa para um time de menor expressão, é outra coisa. Mas graças a Deus eu estou conseguindo lidar com a situação e viver, apesar deste fato inusitado.

Mas você tem patrimônio ou gastou com muita besteira?
Gastei, não. Deixei foi muita coisa para ela na separação. É triste, porque minhas filhas não estão passando fome. Pelo que eu deixei de patrimônio, não poderia chegar a este ponto. Não vivem bem como quando estavam comigo, mas têm uma vida boa.

Com a revisão dos juros, a sua dívida é de R$ 110 mil. Este dinheiro você não tem?
Hoje não tenho condições de pagar este dinheiro. Se tivesse, claro que pagava com o maior prazer. Uma coisa que ela não entende é isso. Que eu tenho outra família. Tenho gastos lá também. Vou ter que pagar de qualquer jeito, mas não tenho R$ 110 mil para pagar à vista.

Você pensa mesmo em parar de jogar? O que vai fazer depois?

Depende muito do que acontecer neste final de campeonato, do meu rendimento, se o time vai subir ou não. Pretendo continuar no futebol, onde tenho conhecimento. Não dá para participar diretamente, mas já tenho contato com alguns jogadores, para empresariar. Isso que vou fazer.

E na beira do campo, como treinador?
Não é minha cara. Minha cara é descobrir talentos. Pelos meninos que jogaram comigo, vi que tenho esta visão. Sempre falei. Por exemplo, o Marcelo, que hoje está no Real Madrid, jogou comigo no Fluminense. Era meu companheiro de quarto, sempre via muita qualidade nele. Teve também o Rafinha, que está no Bayer Leverkusen, e o Adriano que está no Barcelona. São jogadores com quem convivi. Também o Miranda, que está no Atlético (de Madri). São jogadores com muitas qualidades. Sempre falei para a diretoria: “Estes moleques têm talento e querem”. Porque não adianta só ter talento e não querer.

O Fluminense foi o time em que você foi mais feliz?
Ele, Palmeiras e Grêmio. Acho que foram os clubes em que tive mais felicidade. No Palmeiras, infelizmente, perdi aquele título da Mercosul para o Vasco, mas é um clube pelo qual eu tenho muito carinho. Atlético-PR e Coritiba também. Estes clubes marcaram muito minha carreira

Aquela derrota na final da Mercosul, em 2000, foi a mais marcante?
Foi. Principalmente por se tratar de uma final, contra um grande clube como Vasco. A gente sai ganhando de 3 a 0 no primeiro tempo e toma aquela virada histórica… Acho que este é o momento mais triste que tive no futebol.

E no Flamengo, o que aconteceu? Você foi expulso mesmo de lá?
Alegaram que era redução de custos. O Palmeiras apareceu interessado e, graças a Deus, fui muito feliz. Flamengo é aquela coisa, principalmente para quem vem contratado: a cobrança é muito grande. Eu fiquei uns dois, três (jogos) sem marcar. Pegava na bola e era vaiado. Depois tive o maior prazer de jogar contra eles. Todo jogo eu fazia gol, principalmente jogando pelo Fluminense.

Fez muitos amigos no futebol?
Amigo, amigo, poucos. Com quem eu tenho mais contato, me liga, até foi em casa, é o Ricardo Berna, do Fluminense. A gente mora no mesmo condomínio. Foi lá dar uma força, perguntar para minha esposa se estava precisando de alguma coisa. O Gerson, que jogou no Palmeiras, Atlético, também. E mais o pessoal que te ajuda, como os roupeiros do Grêmio, do Fluminense. Com o Pet, tenho amizade também. Também com o Diego Souza. No futebol, você tem colegas. Amigo mesmo, são poucos. É difícil explicar, porque você está ali praticamente uma temporada com a pessoa, e daí acabou, some. Não entendo a cabeça. Procuro sempre ligar para as pessoas. Mas jogador muda muito de número. Eu tenho o meu há muito tempo e nunca mudei.

Você foi solto na sexta e jogou no sábado. Não era hora de ficar com a família?
Amo o que faço. A melhor maneira de esquecer o que tinha passado era vir para cá. Ainda mais do jeito que fui recepcionado. Na concentração, o pessoal estava alegre, feliz. Aquilo me deu mais força para atuar e ajudá-los. Era a ressurreição, por tudo o que aconteceu. Precisava daquilo. A melhor coisa que Deus me deu foi ter voltado, jogado e ter feito gol.

O que tira de maior lição de tudo o que passou?
Dar valor à liberdade. A liberdade não tem preço

Você viveu outra situação inusitada quando estava na Itália, em 1999. Atuava pelo Venezia e fez um gol que ninguém comemorou. O que aconteceu? 

Tinha um valor x para ganhar três jogos em casa: Empoli, Juventus e Bari. Ganhamos do Empoli, empatamos com o Juventus, e o Bari era o último jogo. A gente sai ganhando de 1 a 0. Volta para o segundo tempo, e os caras empatam. Depois, ninguém ataca mais ninguém. O cara aquece, aquece, e vai embora, não vai para o jogo. Aí o cara me chama. Eu era titular, tinha ficado doente, fora dos dois jogos. Aos 45, bola na área. Antecipei e fiz o gol. Acaba o jogo, e o capitão do time deles vai para cima do capitão do meu time. Aquela discussão… Aí você vê as imagens: faço gol e o cara do meu time põe a mão na cabeça. Aí depois ele vibra. Só saem o roupeiro do banco e o Fábio Bilica (outro brasileiro que atuava no time) para comemorar. Jamais vivi isso no Brasil. Aí chega no último jogo, contra o Juventus, e os caras: “Pô, vamos empatar, 0 a 0 está bom”. Eles estavam precisando de um ponto pra ir para a Uefa. “Ano que vem, se estiverem precisando, a gente dá um ponto para vocês”. Então você já imagina como é o campeonato. Não sei quem armou, se foi dentro do campo, se foi fora. Eu tinha contrato de três anos. Tive que sair porque não tinha mais clima com os jogadores. No recreativo, fazia um gol e eles diziam, de gozação: “Ah, vamos lá abraçar, senão vai ficar triste”.

Você chegou a depor sobre o caso..
Fiquei cinco horas em Roma, na Federação. Teve um repórter lá, que falou que era amigo do meu empresário. Falei: “Pô, no meu time ninguém comemora”. Tinha uma atacante lá que, quando cheguei, peguei a posição dele. E ele falando: “Está bom o 1 a 1”. O cara falou que não era para fazer gol. Colocaram tudo na matéria. Deu maior pepino. Mas no fim não deu em nada, na verdade acabou em pizza. Nenhum clube foi punido. Eu não fui punido. Eu não entendo até hoje por que queriam empatar o jogo. Ninguém estava na zona do rebaixamento. E meu time tinha premiação para ganhar os jogos. Se tinha (esquema), ninguém me contou.

Este foi seu gol mais polêmico. E o que você mais gosta?
Um gol bonito foi na Libertadores, pelo Palmeiras, contra um time lá do Peru. Fiz dois gols. Em um deles, o Felipe vai pela ala esquerda e toca na área, no chão. Piso já girando. Deixo o zagueiro para trás e já saio na cara do gol. Foi um dos mais bonitos que já fiz.

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