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Léo Dias: ‘Saio na Barra e encontro várias Terezas Cristinas’, diz Aguinaldo Silva em entrevista

O Dia

Engana-se quem pensa que Aguinaldo Silva, o autor de ‘Fina Estampa’, é um sujeito venenoso como sua Tereza Cristina. Ele também não é o personagem polêmico e vaidoso que incorpora no seu portal na Internet ou no Twitter. Muito educado, gentil e refinado, o novelista abriu as portas de seu lar, uma casa grande e cheia de obras de arte num silencioso condomínio da Barra da Tijuca, para falar um pouco sobre trabalho e vida pessoal.

Observador do cotidiano, Aguinaldo diz que encontra suas dondocas nos restaurantes da Barra, mas sai pouco na rua por conta da rotina exaustiva de trabalho quando está com uma novela no ar. “É terrível. Não tenho um dia de folga sequer”. O autor revelou que tem idolatria pelos atores – “Não são pessoas comuns” – mas disse que já matou um personagem por problemas de bastidores.

Qual é a melhor novela que você fez até hoje?

É sempre a última ou a que a gente está escrevendo. Eu encaro como se fosse o primeiro trabalho. Dou tudo, me mato, me esfolo.

Que sofrimento é esse?

Dizem que sou voraz, que não me conformo com uma “meia bomba”, e isso é verdade. Quando me vejo diante da perspectiva de fazer uma novela, a sensação que tenho é a de que vou disputar uma olimpíada e tenho que ganhar a medalha de ouro.

Como é sua rotina de trabalho?

É terrível. Acordo às 5h30 todos os dias. Às 7h já estou diante do computador e trabalho até o meio-dia. Estou com 68 anos, as pernas não aguentam tanto tempo, já levanto cego com a tela do computador. Ao meio-dia, faço um lanche e vou para a cama dormir por uma hora e meia. Volto para o computador, esqueço o mundo e só paro às 18h para preparar o jantar. Aí sim, eu relaxo, se é que um autor de novela relaxa. Vejo a novela, porque é obrigatório e porque detesto ver gravada. Ligo para o diretor ou para alguém da novela. Aí, já são 23h. Vou para a cama, leio e durmo à meia-noite. Não tenho um dia de folga.

Você não tem empregados em casa?

Consegui me libertar dessa coisa de ter pessoas em casa o dia inteiro. Tenho empregados que vêm uma vez na semana. Preciso ficar sozinho para me concentrar no trabalho.

Alguma novela ruim na sua carreira?

‘Suave Veneno’ foi uma novela que não funcionou por várias razões. Era o momento da explosão do Ratinho, aquele jornalismo sensacionalista e de baixo ventre que ele fazia. Foi uma novidade, não se pode negar. Mas ele nunca conseguiu ganhar da novela, isso foi uma lenda que ele criou. Além disso, houve um desacordo entre mim e a direção da novela. Daniel Filho achava que os personagens de José Wilker e Gloria Pires tinham que se beijar no capítulo três. Botei o beijo no 12. Descobri que o diretor, à minha revelia, reeditou a novela toda. Eu já estava no capítulo quarenta e poucos e tive que reescrever tudo.

Esse fato te magoou?

Eu poderia ter dito “não trabalho mais com esse cara”. A Gloria Perez fez isso em ‘América’. Não sou tão radical, sempre acho que as pessoas podem se entender. Além disso, o mundo vai continuar existindo depois da novela. Fiquei magoado, mas não parei para chorar.

Você tem amigos atores?

Pouquíssimos. Sou muito fã dos atores, gosto de escrever as cenas e ver como eles vão fazer, mas é difícil me aproximar deles. Para mim, atores não são pessoas comuns.

Você já teve problemas com algum ator?

O único com quem eu tive problemas – era um grande ator e já morreu – foi o José Lewgoy em ‘O Outro’. Ele era dado ao cochicho nos bastidores e isso ia criando um clima terrível. A novela girava toda em torno do personagem dele e ele sabia disso. O Lewgoy provocou tamanho transtorno nos bastidores que eu o matei. Matei o personagem, óbvio, e não o Lewgoy. Lewgoy eu só tive vontade.

Você tem alter-ego nas tramas, algum espelho?

Vários. Todos os personagens que dizem coisas politicamente incorretas. A tia Íris, personagem da Eva Wilma, diz todas as coisas que eu gostaria de dizer e que, se disser, vou preso. A Tereza Cristina também tem um pouco de mim. Não é na maldade, porque não sou mau, tenho coração de manteiga. Mas nessa coisa decidida de dizer que vai fazer e insistir.

Marcelo Serrado, o Crô, te surpreendeu?

Ele aplicou o personagem na veia. O Crô é o pica-pau, todo mundo adora, mas também tem muita profundidade. Ele é unanimidade, o Brasil inteiro ama.

O beijo gay é censura, auto-censura ou estratégia para ganhar audiência?

Não é questão de estratégia. A Gloria Perez já tentou e não conseguiu. Como autor, eu gostaria de fazer. Como telespectador, eu gostaria de ver, porque eu sou gay e acho que seria positivo para a chamada ‘minoria’, embora no Brasil isso não seja tão minoria assim. Mas como telespectador comum, penso que não existe uma unanimidade em relação ao beijo gay na televisão. Não tento mais!

Você apoia o casamento entre gays?

Sim, a união civil é um direito, mas eu jamais casaria, porque fui casado duas vezes. O primeiro durou 18 anos. Vi muitos casamentos desmoronarem, um horror! Tô fora!

A militância gay virou apenas consumismo?

O mercado ainda não se deu conta disso, mas os gays consomem muito. Uma vez, Dina Sfat disse que os gays eram muito fúteis, porque quando ela ia ao supermercado com os amigos gays, eles só compravam bobagens. Quiseram crucificá-la, mas ela estava certíssima. Eu vou ao supermercado e não compro fraldas. Eu só compro coisas ótimas! (risos)

Qual é o maior drama de um novelista?

São muitos. O maior é ter a novela estendida. Não corro mais esse risco porque já estou com o capítulo 145 pronto e ‘Fina Estampa’ chega ao fim no 185.

Qual é a sua opinião sobre o vazamento de capítulos das novelas na mídia?

Também sou jornalista e acho que a função da mídia é descobrir os segredos da novela. Sei bem que isso não tira a audiência da trama.

Pensa em se aposentar?

Escrever novela não é só trabalho intelectual, é braçal. Agora, só estou focado naquela palavrinha mágica ‘fim’. O problema é que quando você é novelista, você é treinado para estar sempre pensando.

Você ainda é um observador da vida real?

Sou treinado para ver o mundo da perspectiva de um novelista. Outro dia, estava no restaurante com um amigo e, de vez em quando, eu prestava atenção na conversa e nos gestos dos outros. É assim que você faz uma Tereza Cristina: olhando as dondocas da Barra. As Terezas Cristinas estão todas aqui, encontro várias!

Te incomoda a imagem de polemista?

Eu gosto. E não é vaidade. Gosto que as pessoas reconheçam meu trabalho e acho que posso usar essa notoriedade para falar de outras coisas, opinar e chocar. Tem gente que tenta derrubar meus atores porque estão na minha novela. Isso é uma sacanagem!

Já teve problemas por conta de seus comentários, como no caso da Juliana Paes, que vai fazer a minissérie ‘Gabriela’?

No livro, a Gabriela é uma menina. Ela sobe no telhado para pegar pipa. Não é que a Juliana não seja capaz, ela é uma atriz muito boa. Queria ela na minha novela de qualquer maneira, mas ela não quis porque falou que estava gorda. Inventaram essa briga.

Você aceitaria trabalhar na Record?

Já fui convidado em 2009. Vieram aqui dois senhores com uma proposta tão absurda que fiquei assustado. A Globo soube e fez uma contraproposta. Se eu fosse, levaria uma equipe, porque a Record ainda peca pela falta de bons profissionais. Não adianta ir e achar que vai resolver o problema apenas com o texto.

Você está procurando um namorado?

Um homem da minha idade tem netos, não tem namorado. Quando a gente é jovem, tira a roupa em cada esquina. Nos anos 70, eu e todo mundo éramos assim. Agora, é diferente. Sou mais seletivo.

Você sofre assédio?

Sim, mas tiro de letra. Às vezes, preciso até ser indelicado.

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