Léo Dias: ‘Minha novela vai ter descamisados e descamisadas’, diz o autor Carlos Lombardi

O Dia

Carlos Lombardi trocou a Globo pela Record no fim do ano passado. E ‘Pecado Mortal’, a primeira trama do autor em sua nova emissora, deve estrear até dezembro. Homens sarados com os peitos de fora foram uma marca de Lombardi na Globo. Foi assim com Marcello Novaes em ‘Quatro por Quatro’ (1994); Claudio Heinrich em ‘Uga Uga’ (2000); e Marcos Pasquim em ‘Kubanacan’ (2003).

Pelo andar da carruagem, ‘Pecado Mortal’ também vai contar com saradões. E saradonas. “Minha novela vai ter descamisados e descamisadas”, disse ele, em entrevista à coluna. A trama se passa na década de 70 e o jogo do bicho estará incluído na história. Lombardi jura que não teme represálias: “Os bicheiros dos anos 70 são anjinhos perto da bandidagem atual”. O autor diz, ainda, que não saiu da Globo por causa de salário. “Não fui para a Record por causa de dinheiro”, afirma ele.

Qual é a sua marca nas tramas que escreve e o que poderemos ver em ‘Pecado Mortal’?

Ação e casais fortes, difíceis de separar.

Em ‘Quatro por Quatro’ (1994), ‘Uga-Uga’(2000) e ‘Kubanacan’ (2003), você escalou atores que apareciam muito sem camisa. ‘Pecado Mortal’ também vai ter descamisados?

Descamisados e, graças ao horário, descamisadas. Vamos ter um núcleo numa boate de strip de Copacabana.

Você é viciado em Twitter?

Não. Twitter é uma forma de divulgação. Pra mim é trabalho.

Alguns autores dizem que precisam de imersão por alguns meses. Dá para ficar na internet mesmo tendo que trabalhar?

Difícil ficar longe da internet. Mas tenho disciplina. Quando tenho que enfrentar o tanque de roupa suja, a passada é bem rápida.

Na Globo, você tinha alguma atriz que considerava seu amuleto? E tem algum xodó no elenco de agora na Record?

Betty Lago é a resposta para as duas perguntas.

Teve dificuldade para escalar o elenco, já que o casting da Record é mais reduzido do que o da Globo?

Não. Eles têm um banco de elenco bastante interessante. A maior parte do elenco é de atores que já estavam lá antes de eu chegar.

Em princípio, a Bianca Rinaldi teria um papel na sua trama?

Sim, Bianca Rinaldi estava escalada para a novela.

Sua novela vai tratar do jogo de bicho. Você não tem medo de ameaças e represálias ao retratar esse mundo?

Honestamente, não. Os bicheiros dos anos 70 são anjinhos perto da bandidagem atual.

Havia uma notícia de que a trama se passaria na década de 70. Qual é o motivo para essa opção?

O ano de 1977 foi muito importante pra mim. Lembro dele (claro que é uma lembrança meio onírica, nada realista) como uma época colorida, pra cima — apesar de todo mundo fazer cara de mau quando falava do movimento militar. Em 77, fugi do exército (uma noite e não só eu, todo mundo que foi mais rápido que os soldados invadindo a PUC). E também foi meu primeiro trabalho em televisão. Estava no segundo ano do curso de Comunicações da USP. Ótimas lembranças e ótima música.

Como fica sua situação na Record com as notícias sobre uma possível terceirização da teledramaturgia da emissora?

Só lido com fatos, não com especulações. Quando as coisas acontecerem (se acontecerem), vou tentar entender como funcionam.

A estreia da novela foi adiada?

Não que eu saiba.

Você tem colaboradores? Quantos?

Dois. Nelio Abbade (que fez ‘Pé na Jaca’ comigo e antes foi meu pesquisador em vários trabalhos) e Emílio Boechat, que já estava na Record.

Que diferenças existem entre a Globo e a Record?

Deixa eu trabalhar mais tempo, aí posso fazer uma avaliação honesta. Por enquanto, ainda estou aprendendo como a Record funciona. Uma coisa boa já descobri: tem pouco chefe, não é uma burocracia de Império Bizantino.

Seu salário é muito maior atualmente? Que motivos te fizeram aceitar a proposta da Record?

Meu salário é muito parecido ao que recebia na Globo. Não fui pra Record por causa da proposta de dinheiro, fui para poder trabalhar num horário diferente e com data marcada pra começar o trabalho.

Quais são seus autores preferidos na televisão? E quem são seus mestres?

Ivany Ribeiro, Janete Clair e Cassiano Gabus Mendes. Dos atuais, sou amigo pessoal da Gloria (Perez), tenho bom relacionamento com Silvio de Abreu, que foi quem me convidou pra ser colaborador dele, admiro muito o estilo do Manoel Carlos e do Benedito Ruy Barbosa — muito diferentes entre si e muito diferentes do que eu faço. O que gosto é que eles têm uma marca autoral forte. Você sabe que está vendo uma novela de qualquer um dos dois assistindo só a um capítulo. Gosto disso.

O que mudou nas novelas dos anos 70 pra cá?

Os capítulos ficaram maiores e o ritmo também ficou maior — ou seja, o que antigamente você contava em 260 capítulos hoje cabe em 100, no máximo.

Pensa em se aposentar?

Só se ganhar na loteria.

Você gostaria de escrever outras coisas além da novela? O que você costuma assistir na TV?

Gosto de seriados. Não sou um fã de sitcoms (apesar de ter gostado muito de ‘Friends’). Gosto, em geral, de coisas mais sérias. Gostava muito de ‘Arquivo X’, ‘Lost’, ‘Sopranos’. Hoje em dia, gosto de ‘Hannibal’ e ‘Games of Thrones’. Fora isso, assisto a muito telejornal internacional. Às vezes, pra ouvir ao fundo, quando estou trabalhando, deixo no canal OFF — esportes radicais — ou no Discovery Living, se é esse o nome. Aquele que tem programas sobre hotéis exóticos, cruzeiros diferentes etc.