



Melhor se acostumar: ONU diz que preço do café não terá redução pelo menos nos próximos 4 anos. Entenda
Relatório da FAO alerta para impactos prolongados nos preços ao consumidor, com alta de 38,8% no valor global do grão; Brasil e outros produtores sofrem com secas e geadas.
O preço mundial do café registrou um aumento significativo em 2024, com alta de 38,8% em relação à média do ano anterior, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (14) pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). O encarecimento do grão, impulsionado por problemas climáticos, custos logísticos e aumento do consumo, deve impactar os consumidores globais pelos próximos quatro anos, com repasses graduais nos preços ao longo dos próximos meses.
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O café arábica, um dos tipos mais consumidos no mundo, teve alta de 70% na bolsa Intercontinental Exchange (ICE) em 2023 e já acumula mais 20% de valorização em 2024. Já o robusta, variedade mais resistente e amplamente utilizada em blends e cafés solúveis, também atingiu patamares recordes, superando, em setembro do ano passado, o preço do arábica pela primeira vez em sete anos.
Clima e logística como vilões
As mudanças climáticas são apontadas como o principal fator para a disparada dos preços. Secas prolongadas, ondas de calor e geadas têm prejudicado a produção em grandes regiões cafeeiras, como Brasil, Vietnã e Colômbia. No caso do Vietnã, maior produtor mundial de robusta, a queda na produção foi de 20% na safra 2023/24, com exportações recuando 10% pelo segundo ano consecutivo. No Brasil, a inflação do café chegou a 66,18% em 12 meses até fevereiro, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Além disso, conflitos no Oriente Médio elevaram os custos de transporte marítimo, impactando diretamente o preço dos contêineres e, consequentemente, o valor final do café exportado. A combinação desses fatores tem corroído os estoques globais, pressionando ainda mais os preços.
Impacto prolongado no varejo
De acordo com a FAO, os consumidores sentirão os efeitos da alta gradualmente. Na União Europeia, 80% do aumento nos custos do grão serão repassados ao varejo ao longo de 11 meses, enquanto nos Estados Unidos o mesmo percentual será transferido em oito meses. No entanto, o impacto completo deve perdurar por pelo menos quatro anos. O relatório destaca que, na UE, um aumento de 1% no custo do grão cru se traduz em alta de 0,24% no preço de varejo após 19 meses, com efeitos persistentes por vários anos.
Produtores lucram menos que o mercado
Apesar da valorização internacional do café, os produtores não têm se beneficiado na mesma proporção. Segundo a FAO, os preços pagos aos cafeicultores subiram 17,8% na Etiópia, 12,3% no Quênia, 13,6% no Brasil e 11,9% na Colômbia — valores bem abaixo dos ganhos observados nas bolsas internacionais. Essa discrepância se deve, em parte, aos custos adicionais envolvidos na cadeia produtiva, como transporte, torrefação, embalagem e margens de lucro no varejo.
Perspectivas para 2025
A FAO alerta que, se as principais regiões produtoras sofrerem novas reduções significativas na oferta, os preços de exportação do café podem subir ainda mais em 2025. Enquanto isso, o consumo global continua em ascensão, com o café mantendo o posto de segunda bebida mais consumida no mundo, atrás apenas da água. No Brasil, a expansão para novos mercados internacionais tem reduzido a oferta interna, contribuindo para o cenário de preços elevados. Com os desafios climáticos e logísticos longe de serem resolvidos, o cenário para os amantes do café parece ser de adaptação a um novo patamar de preços, que deve perdurar pelos próximos anos.